sábado, 2 de abril de 2011

Mineração: Acabar com o povo é apagar a sua história

Escrito por CPT Sul/Sudoeste (Bahia)   
A chegada de grandes empresas mineradoras no sudoeste da Bahia tem provocado uma reviravolta na vida de muitas comunidades na região. À medida que vamos conhecendo mais afundo a história destas comunidades impactadas pela mineração chegamos à conclusão que os danos provocados por estas empresas à vida das famílias são irreversíveis, uma vez que um povo que tem sua história apagada é um povo que não tem cultura e nem identidade, e um povo que perde sua cultura e identidade perde parte da sua vida.
Na região sudoeste os municípios de Caetité, Pindaí e Lagoa Real têm muito em comum com a chegada de grandes empresas mineradoras. Primeiro com a implantação das Indústrias Nucleares do Brasil - INB (produtora da pasta de urânio que enriquecida produz armas de destruição em massa e energia nuclear. E mais recentes da Bahia Mineração - BAMIN, que o Estado tem dado as licenças e para explorar ferro na região e investirá bilhões de reais na construção do complexo intermodal do Porto Sul e Ferrovia Oeste leste para uso exclusivo da empresa.
Para iniciar a exploração mineral, ambas se apropriaram dos territórios de comunidades tradicionais que centenariamente ali habitavam. O mais curioso é que se tratavam de populações negras com fortes traços e indícios de remanescentes de quilombos que tiveram seus maiores referenciais históricos destruídos pelas empresas, antes mesmos de se auto-reconhecerem como tal.
Foi assim na comunidade de Riacho da Vaca, localizada nos arredores da mina de urânio. Segundo as lideranças locais, a comunidade não teve tempo e nem chance de ser reconhecida como Quilombola e o pior, é que seu maior referencial histórico, a antiga casa de engenho, foi o primeiro local a ser demolido pela empresa tirando a possibilidade de outras gerações conhecerem a verdadeira origem de seus antepassados.
Em 2007 chegou à região de Caetite e Pindai a BAMIN, empresa de capital do Cazaquistão com proposta de implantação do Projeto Pedra de Ferro, com a expectativa de explorar cerca de 19,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a partir de 2013. A empresa pretende se implantar numa região de Gerais riquíssima em biodiversidade de flora e fauna, de pinturas rupestres, cavernas e de nascentes, preservada centenariamente pelas populações tradicionais que ali habitavam. Nesta região vivia aproximadamente 1320 famílias de agricultores familiares, em 18 comunidades tradicionais, destas já foram extintas Antas Velhas e Palmitos que eram comunidades negras e sequer tiveram oportunidade de se auto-reconhecer. O empreendimento chega com proposta de geração de empregos e renda e desenvolvimento para a região que historicamente esquecida e a margem das políticas publicas por parte do Estado.
No ano de 2008, a BAMIN adquiriu o direito de posse das famílias de Antas Velhas e Palmitos que foram retiradas para periferia de pequenas cidades e povoados dessa região. Hoje, o retrato desta histórica comunidade é assustador. Tudo que sempre fez parte da história de vida daquele povo está sendo demolido numa tentativa clara de apagar todo e qualquer vestígio de uma população que há centenas de anos tinham aquele território como um espaço de multiplicação e reprodução de sua vida. Diferente de Riacho da vaca, a comunidade de Antas Velhas já tinha iniciado um estudo para auto-reconhecimento, sendo este interrompido pela ganância e sede voraz do grande capital por ali conhecido como Bahia Mineração. A maioria das casas já foi derrubada, na Escola Jardim Paraíso retro escavadeira passou por cima, entre os destroços alguns livros que as crianças não conseguiram pintar, roupas e calçados jogados fora. A sensação é que a energia de lá é somente dos “encantados”. Resta o vazio e o silencio.
Uma pergunta fica no ar: Até quando a nossa “civilização” estará disposta a colocar o lucro acima da vida e as pessoas serem vistas como entraves ou meras mercadorias num projeto de desenvolvimento insustentável e excludente?
Para onde o povo foi não sabemos ao certo. Mas onde quer que estejam uma grande parte de suas vidas ficou para trás, enterrada nos escombros das comunidades de Palmito, Antas velhas e na memória de um local onde um dia existia uma casa de engenho em Riacho da Vaca que hoje só está na memória de alguns.
 

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